segunda-feira, 25 de novembro de 2013

IV Ultramaratona de 24h @ Valinhos, SP - 23/24NOV2013

 Ainda me recuperando desta prova que rolou neste último final de semana (23 e 24 de novembro) na cidade de Valinhos, interior de São Paulo. Normalmente, demoro em média uma semana para postar algum relato após alguma prova que participo, desta vez, resolvi antecipar a postagem, aproveitando as dores no corpo e a clareza dos fatos que ocorreram nessas 24 horas.

 Há uns dois meses atrás, durante uma conversa com o Rafa (irmão/amigo), resolvemos nos inscrever e encarar esse desafio das 24h em dupla (uma pista com 1.350m de distância). Como sempre treinamos juntos, seria mais fácil bolar uma estratégia para o dia da prova. Após a inscrição, aumentei muito o volume dos meus treinos longos. Afinal, nunca havia participado de uma ultramaratona antes.
 Um mês antes do dia da prova, quebrei a mão direita, isso me derrubou emocionalmente, tive que ficar uma semana inteira sem treinar devido as dores e o peso do gesso. Após essa primeira semana de gesso, não segui as recomendações médicas e voltei a treinar normalmente.  

 Enfim, o grande dia!
 A equipe Força Vegana estava muitíssimo bem representada com mais de 15 atletas inscritos na prova e outros 6 "anjos da guarda" (Erika, Criz, Digo, Fabiana, Liana e Débora), sem eles seria impossível ter concluído essa prova.
 Por volta das 8h da manhã de sábado, estávamos partindo daqui de São Paulo com destino à Valinhos, chegamos lá por volta das 9h e começamos os preparativos para a prova.
 O tempo não parecia favorável, céu nublado e de vez em quando uma garoa fraca, mas isso já era esperado para o dia.

 Às 10h da manhã em ponto foi dada a largada. O Rafa iniciou a prova enquanto eu terminava de arrumar minhas coisas. Combinamos que rodaríamos 30min. cada, assim não daria tempo do corpo esfriar, a estratégia deu certo, porém, como as sextas voltas passavam um pouco dos 30min., resolvemos dar seis voltas cada, assim não fugia muito da estratégia.
 Nas primeiras horas de provas estava ocorrendo tudo bem, a cada seis voltas eu comia alguma coisa, mesmo sem fome, assim evitava comer muito de uma só vez.

 Após completarmos 2 horas de prova, saiu uma parcial com os resultados, estávamos a 2 voltas na frente dos segundos colocados. Resolvi forçar um pouco o ritmo e aumentar essa vantagem, o Rafa (experiente em ultras) pediu para que eu fosse com calma, pois a prova só estava começando, qualquer vacilo no início seria extremamente prejudicial nas horas seguintes. Deixei essa "ansiedade" de lado e resolvi correr numa boa.

 Em vários momentos da prova quando chegava na minha vez começava a chover (adoro correr na chuva, mas gesso e chuva não combinam), então tinha que correr de corta-vento mais uma sacola enrolada na mão para proteger. Eu percebi que nessas horas de chuva, o pessoal dava uma quebrada no ritmo, já eu e o Rafa continuávamos normalmente, como se nada pudesse nos atrapalhar.
 Corri um pouco com o Natan, que sempre dava uns gritos de incentivo pra mim (esse tipo de apoio me renova de tal forma que nem consigo explicar).
 Por volta das 14h da tarde, já havíamos passado dos 60km quando resolvi fazer a primeira massagem nas pernas, estava sentindo um leve incômodo na coxa direita. Após a massagem, me senti zerado e voltei a correr sem dores.

 Durante toda a prova eu tentava não pensar quantas horas faltavam pro término, queria apenas manter o meu ritmo, qualquer preocupação desnecessária naquele momento não seria nada bom. Provas longas exigem uma grande concentração, posso dizer com certeza que a cabeça é o mais importante, ela é que controla tudo.

 A madrugada chegou e trouxe com ela muitos pensamentos confusos pra minha cabeça, comecei a me questionar enquanto corria: "O quê estou fazendo aqui?", "Poderia estar dormindo agora, não?", "O quê estou ganhando com isso?"...Quando menos percebi estava chorando, isso nunca havia acontecido antes... Não era choro de dor nem de cansaço, era apenas uma resposta para as perguntas.

 Já estava amanhecendo quando resolvi dar mais uma olhada nas parciais e vi que estávamos 7 voltas (quase 10kms) na frente da segunda dupla. A madrugada foi boa pra gente, porém quando amanheceu diminuímos muito nosso ritmo devido ao cansaço e todo o esforço feito nas últimas 20 horas. De repente a outra dupla parecia renovada, fazendo voltas mais rápidas que as nossas, ficando apenas 3 voltas (4,5km) atrás da gente.
 Às 8h da manhã do domingo, tanto eu quanto o Rafa, estávamos extremamente cansados, resolvi fazer uma última massagem nas pernas, e tentar dar um gás no final. Mudamos a estratégia, mostrando que ainda sobravam forças, o Rafa dava uma e eu dava duas voltas fortes. Algumas pessoas que acompanharam a prova desde o início olhavam meio assustadas pra gente, ouvi a frase: "Os veganos comeram alface envenenado agora!" haha.

 Faltando 15 minutos pro término, resolvi dar a minha última volta e passei o chip pro Rafa fechar a prova. Rodamos 238,5km, em 24 horas (sem deixar a pista livre em nenhum momento) e conquistando o primeiro lugar.



  Serei eternamente grato aos que ficaram no apoio da equipe, faltam palavras para agradecer todo o suporte que recebi durante essas 24 horas de prova, e PARABÉNS à todos os atletas veganos que compartilharam esse momento único que tivemos nesse final de semana!


"Meu medo é um dia perder a memória e não lembrar dessas coisas" - Frase dita pelo Natan nesse final de semana e que vou levar pro resto da minha vida.