quarta-feira, 30 de abril de 2014

Kailash Trail Run 30K @ Passa Quatro, MG - 26ABR2014

 Corrida de Montanha: Talvez seja o motivo de eu me dedicar e querer aprender a cada dia mais, porém, foi durante o percurso da KTR que eu conheci "A montanha" de verdade... 

 Quando iniciou-se a divulgação da KTR, algo me chamou muito a atenção - falaram algo de "percurso 100% montanha, montanha russa, etc...". Até então eu não tinha ideia de como seria ou se iria realmente participar. Poucas semanas antes da prova conversei com o Pedro sobre a prova e começamos a nos animar, a única dúvida seria em qual categoria... Não demorou muito para chegarmos a uma conclusão: estávamos treinando sempre juntos com a mesma planilha de treinos, logo pensamos em encarar o percurso em dupla. Ficamos surpresos quando soubemos que na categoria dupla teríamos que correr o percurso juntos ao invés do tradicional revezamento. Bom, os treinos estavam a todo vapor, então nada nos impedia de topar o desafio (e bota desafio nisso!).

 Sexta-feira, 25 de abril, por voltas das 18h45 estávamos partindo de São Paulo com destino a Passa Quatro - MG, onde ficaríamos hospedados aguardando a prova no dia seguinte. Chegamos na pequena cidade um pouco antes da meia-noite e sem pressa organizamos o que usaríamos na prova com largada prevista para as 11h00.

 Sábado, por volta das 9h00 fomos até o estádio municipal da cidade - local onde partiriam carros, levando os atletas para o Refúgio Serra Fina (largada). Chegamos no Refúgio com tempo de sobra para acertarmos alguns detalhes importantes e conversar com os amigos e conhecidos que também participariam da prova. Grandes nomes do trail running nacional estavam presentes nessa competição: José Virgínio, Chico Santos, Ivan Pires, entre outros.
 Era impossível controlar a ansiedade minutos antes da largada. Todos ali não viam a hora de soar o disparo inicial...

 Por volta das 11h20 finalmente foi dada a largada. A partir dali, eu e meu parceiro éramos um só, a meta era concluir a prova. Após corrermos cerca de 1km num ritmo forte, entramos em single track, a partir dali o ritmo caiu absurdamente, fazendo com que todos caminhassem na subida - a prova estava começando a revelar suas dificuldades.
 No 3,5km, numa descida com lama, ao tentar avançar, caí num buraco. Em seguida não sentia meu braço direito, segui com calma até constatar que foi apenas um "susto" e que estava tudo certo.

Foto: Wladimir Togumi

 Devido a um trecho mal sinalizado, um pouco antes dos 5km, vários atletas (inclusive eu) seguiram na direção errada, passaram-se poucos metros até eu me deparar com um atleta voltando e indicando a direção correta para os demais.
 Meu relógio marcava 5km, estávamos numa subida infernal com destino ao cume do Capim Amarelo, ali não era possível subir correndo, tampouco andando, iniciava-se uma dura prova de paciência. Durante a longa subida fui recebendo ajuda dos demais atletas, quando os braços e pernas ardiam de tanta força que eu tinha que fazer para escalar.

 Finalmente no topo do Capim Amarelo!
 Não pude deixar de perder alguns segundos admirando a bela vista.
 O momento mais preocupante da prova foi quando o Pedro bateu pela segunda vez o joelho numa pedra que estava por trás do capim. Eu via que ele não estava aguentando de dor - foi quando eu perguntei se ele queria parar por ali - ele pediu para esperar um pouco... Nisso, vários atletas passaram por nós perguntando se queríamos que eles chamassem algum staff para ajudar. Poucos minutos depois ele estava de pé, pronto para continuar. Depois dessa atitude dele, eu vi que nada podia nos parar, nós iríamos concluir esse desafio juntos.
 Continuamos para iniciarmos a descida - pensávamos que desceríamos correndo, engano o nosso. A descida era tão técnica quanto a subida. Seguimos a longa descida por dentro do capim, era quase impossível ver a trilha, nos perdemos pelo menos umas duas vezes.

Foto: Wladimir Togumi

 Após alguns tombos e vários cortes nas mãos, a longa descida chegava ao fim, nos mostrando um trecho de estrada que levava até o local da largada, onde estavam algumas pessoas dando incentivo a cada atleta que parava para abastecer a mochila com água. Sem perder muito tempo continuamos para o segundo trecho, agora o desafio era chegar ao cume do Tijuco Preto.

 Nosso ritmo continuava fraco, seguimos numa longa subida, tendo os galhos das árvores como apoio. Nesse trecho a vegetação era completamente diferente do primeiro trecho.
 A temperatura começava a cair, o barro, até mesmo os galhos estavam congelando nossas mãos, o grau de dificuldade era grande, em alguns trechos haviam cordas para auxiliar na subida dos atletas.

 Ao alcançarmos o cume do Tijuco Preto fomos tomados pela neblina, uma pena, com certeza o visual teria sido espetacular como na primeira etapa. Começamos a ficar preocupados com o horário, então não perdemos tempos lá em cima e iniciamos a descida, desta vez, um pouco mais rápida que a primeira, porém, extremamente técnica fazendo com que caíssemos algumas (várias) vezes...
 Durante a descida estávamos ouvindo a voz da locutora da prova - era um sinal que a prova estava chegando ao fim, nesse momento a ansiedade tomou conta e nós - aceleramos nos 2kms finais.

 Chegamos minutos antes de escurecer, com o tempo de 6h24m34s. Foi um alivio, o objetivo foi concluído: completamos a primeira edição da corrida de montanha mais dura do Brasil. Ficamos em 4° na categoria dupla masculina. 
 Todos que participaram da prova estão de parabéns, pois, enfrentar tamanha dificuldade, numa prova que até quem tinha um nível alto (profissionais) reclamou, não é pra qualquer um.

 Gostaria deixar meus agradecimentos ao meu amigo Pedro, que topou o desafio e me acompanhou durante essa loucura, toda equipe da UPFIT, por terem participado em peso da competição e especialmente ao meu treinador Sidney Togumi por todos os treinos nas últimas semanas e por ter tornado tanto a minha, quanto a participação do meu parceiro possível nesta prova.


Foto: Wladimir Togumi