quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Desafio das Serras - Mantiqueira @ São Francisco Xavier, SP - 6/7SET2014

 O Desafio das Serras é uma prova bastante conhecida e é realizada nos moldes do 'El Cruce' (Argentina/Chile). No Desafio são dois dias, com 40km cada. A cada ano que passa é realizada em algum lugar diferente, desta vez, em São Francisco Xavier, uma pequena vila na Serra da Mantiqueira, a 60km de São José dos Campos - SP. A prova contém as categorias: dupla masculina ou feminina, dupla mista e solo (todas com a opção de 40 ou 80km) 
 Foi minha primeira participação no Desafio - Fui em dupla com meu parceiro Pedro. Após a prova eu tive a oportunidade de conversar com atletas que já haviam participado das edições anteriores e relataram que essa etapa foi a mais dura de todas - 'sem comparação e exagero...'

 Sexta-feira (5), por volta das 21h estava partindo daqui de São Paulo com destino a Monteiro Lobato, onde eu e o Pedro ficaríamos - na casa do nosso amigo e parceiro de equipe UPFIT Trail, Miragaia - que também participou do Desafio. Com a umas das vistas mais maravilhosas que já vi na minha vida, o cara mora no topo da montanha, só pro carro conseguir chegar até lá, foi um tremendo sacrifício! rs.
 Chegamos um pouco tarde lá, então o melhor a fazer era descansar pro dia seguinte. Estávamos cerca de 20km de S. Francisco Xavier.

1° dia
 Sábado por volta das 6h acordamos para tomarmos café da manhã, pois a larga estava prevista para as 9h e ainda haviam alguns detalhes (malas) para serem organizados. Antes de tudo, saí da cabana para contemplar a vista das montanhas da serra meio a neblina matinal para absorver parte das boas energias que aquele lugar transmite... Sem palavras.

vista da cabana às 6 da manhã 

 Saímos da casa do Miragaia por volta das 7h30 com destino a praça central de S. Francisco Xavier, local da largada. Chegamos lá às 8h, dando tempo de despachar nossa mala no caminhão da organização levar para o acampamento, onde dormiríamos no sábado a noite.
 Nesse meio tempo encontramos vários amigos ali na largada, o Lucas Ferro, que correu Bombinhas comigo semanas atrás, Carlinhos (campeão na dupla mista), o Marcinho - que também faz parte da nossa equipe, entre outros campeões de diversas corridas de montanha Brasil a fora.

 Um pouquinho depois das 9h - pois faltavam alguns atletas passarem no PC 0 para registrarem seus chips de cronometragem - foi dada a largada de todas as categorias.
 Combinei com o Pedro de sairmos num ritmo mais confortável, pois o primeiro dia seria bem mais duro e técnico que o segundo, então assim seguimos nos primeiros quilômetros. Não demorou muito e iniciaram as duras subidas de estrada de terra, antes de chegarmos aos trechos de trilhas. Estávamos subindo bem, apesar do sol forte naquela manhã... Eu só queria entrar logo na trilha pra dar uma 'refrescada' no corpo.

  Por volta do quilômetro 4 ou 5 entramos na trilha, iniciava-se um single track bem técnico, era essencial muita atenção nesse naquele trecho. Alguns dias atrás eu vinha sentindo uma leve dor na canela direita, nos quilômetros iniciais essa dor não me impedia de correr, até que no quilômetro 7 eu dei uma topada com um troco no chão, justamente onde vinha doendo dias atrás... Respirei fundo e continuei a seguir o Pedro. Poucos metros a frente topei novamente e mais forte que a primeira vez, sentindo uma insuportável. Tentei manter a calma e seguir mais devagar, mas minha canela latejava de dor, até num simples trote. Faltava muito pro término da prova, era necessário tomar uma decisão: parar ou continuar, até que o Pedro me deu alguns conselhos e disse que eu era mais forte do que aquela dor, éramos uma dupla e um só espírito. Seguimos em frente.



 O segundo trecho de trilha que pegamos tinha aproximadamente 20km, apesar da dor eu me sentia menos cansado do que no início. Passamos por alguns rios, onde reabastecíamos nossos compartimentos com água, era necessário hidratar bem, pois o calor era intenso e ainda havia o segundo dia pela frente. 
 Continuamos na trilha com destino a Pedra Redonda - o ponto mais alto da prova, onde tivemos auxílio de cordas para alcançarmos o topo e iniciar a descida pela trilha.
 Muitas pessoas estavam ali no cume e ao passarmos era uma festa só - muitos gritos de incentivo, o que dá uma carga extra pra quem está competindo, uma das melhores sensações que podemos sentir na prova é isso. Algumas pessoas que estavam descendo a trilha abriam caminho pra gente passar, sempre com um sorriso, dando os parabéns ou até um 'boa sorte'. Demais!

foto: Christophe Scianni

 Seguimos para os 10km finais. Nos trechos de subidas eu segurava na mochila no Pedro e ele me 'puxando' - isso me salvou muito, pois quanto mais eu corria mais minha canela doía, mas sempre respirava fundo tentando esquecer da dor focando na chegada.
 Nos 7km finais, onde haviam mais descidas, comecei a imaginar o que teria para comer no acampamento - era uma boa distração, rs. Estava morto de fome, não aguentava mais comer aquilo que normalmente levamos para consumir durante a prova.
 Até que ao passarmos pelo último PC fomos informados de que restavam 2km para o término. Poucos metros a frente já era possível ver o pórtico de chegada, acampamento, etc.
 Finalizamos os duros 42km do primeiro dia com 7h12m19s. Encontramos alguns amigos que chegaram antes e outros que chegaram depois da gente, conversamos um pouco, tomamos um banho e fomos para a parte mais importante: o reabastecimento! 
 Excelente iniciativa da organização, que atendendo a pedidos, disponibilizaram uma boa alimentação para quem era vegano - afinal, uma prova com dois dias de duração e uma alimentação ruim não seria nada legal.

 Minha canela ainda doía muito após a prova, fiz 30 minutos de gelo e um pouco antes de irmos para barraca, dei uma passada na fisioterapeuta da organização para ver se ela fazia algum milagre para eu conseguir correr no dia seguinte. Como não era possível massagear o local da dor - eu não aguentaria, ela sugeriu isolar o local da dor com alguns adesivos, fazendo uns quadradinhos e logo em seguida coloquei a meia de compressão (até corri com ela no dia seguinte) para dar uma segurada. Após um banho, muito macarrão, uma passada na fisio e conversas com os amigos, nos dirigimos para a barraca para dormirmos o mais cedo possível para acordarmos 100% no dia seguinte.


2° dia
 No segundo dia de competição a largada era uma hora mais cedo, às 8h, então, acordamos por volta das 6h30 e começamos a organizar nossas coisas para tomarmos café da manhã e aguardar a largada. Eu estava preocupado com a canela, devido as dores do dia anterior, felizmente eu não sentia tanto, mas só saberia mesmo quando eu começasse a correr. Se alimentar bem e dormir cedo no sábado, contribuiu muito na recuperação e eu me sentia muito bem no domingo.

 Precisamente às 8h da manhã foi dada a largada para os 40km restantes de prova. Ainda bem que a largada foi mais cedo, pois o sol já estava muito forte naquele momento, imagina nas horas seguintes? 
 Eu saí num ritmo mais forte ao lado do Pedro, percebi que a dor na canela não incomodava em nada, então dava pra forçar mais, nos primeiros quilômetros haviam poucas subidas e muitas decidas, fazendo com que nós ganhássemos velocidade. Isso me preocupou por um momento, pois, quanto mais descidas houvessem, mais subidas pegaríamos mais a frente. Pois bem, passando do quilômetro 10 pegamos a primeira subida, logo iniciávamos uma rápida caminhada com as mãos nos joelhos debaixo daquele sol escaldante. Eu gosto desses trechos que é necessário dar uma alternada, entre trote e caminhada na subida, pra dar uma "descansada" em partes da musculatura.
 Sempre quando nós chegávamos no finais das subidas ao olhar para trás o visual era incrível, fazendo valer a pena todo aquele 'sofrimento' da corrida.

foto: Wagner Pnl

 Haviam muitos trechos que deu pra correr bem. Diferente do primeiro dia, o segundo consistia em estradas de terra, boa parte do percurso. Ao chegarmos no quilômetro 15 o Pedro tropeçou e bateu o joelho numa pedra - aquele mesmo joelho que ele bateu na KTR, em abril (joelho-imã pra pedra, rs), inchou na hora. Ele respirou fundo durante uns 3 minutos, e disse que podia seguir, começamos a trotar, acelerando o ritmo de volta aos poucos.
 Não demorou muito, se eu não me engano, no quilômetro 15 pegamos uma subida surreal, eu tentava nem olhar para o topo... Um trecho muito difícil de subir, em alguns momentos era necessário subir pela grama... Muito difícil, pra terem uma ideia, 1km ali deu por volta de 24 minutos, rs.
 Mais uma vez ao atingirmos o topo fomos contemplados com uma vista espetacular - a mais bonita que vi durante os dois dias de prova - eu queria muito estar com uma câmera ali para registrar.

 Após iniciarmos uma descida um staff  informou que era necessário passar sem fazer muito barulho, pois, naquele trecho haviam muitas abelhas - seguimos as recomendações, reabastecemos nossas camel bags com água e fomos em frente.

foto: Luiz Milan 

 Atingindo a marca dos 26km, era necessário dar a volta numa montanha e continuarmos fazendo o caminho oposto, por estrada de terra. Ao fazermos esse contorno, seguimos para os momentos finais da prova.
 A ansiedade era enorme, não via a hora de chegar. Meus pés já estavam bem 'judiados' devido as decidas, sem contar a fome que eu estava também, rs.

 O último trecho que enfrentamos, foi uma descida de aproximadamente 800m, muito ingrime, difícil de acelerar... Dos males o menor, pois era o final da prova, já era possível ouvir o locutor e ver a praça central de S. Francisco Xavier. Muitas pessoas estavam ali recepcionando os atletas que chegavam. Concluímos os 40km do segundo dia com 5h12m19s. Com a somatória dos dois dias ficamos em 9° lugar da colocação geral. 

 Eu gostaria de agradecer ao meu treinador, Sidney Togumi por todos os treinos e orientações que vem nos passando, ao Miragaia (Namastê!) por ter nos hospedados na sexta, em sua casa - chegamos muito tarde lá e provavelmente acordamos ele, rs. E... PARABÉNS pelo resultado, primeiro colocado com o seu parceiro Celião, os reis da Mantiqueira! Ao Marcinho, que com seu parceiro Iazaldir Feitosa, conquistaram o terceiro lugar no pódio. Parabéns à todos! 

Final de semana incrível,
Provas sensacional, quero fazer outras vezes, com certeza.
UPFIT Trail